quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Coisas que aprendi enquanto Psicóloga

Este mês eu celebro quatro anos de conclusão do curso de Psicologia. Lembro-me dos planos que eu tinha naquela época e o quanto eles foram lapidados de lá para cá. Agora, em via de defesa do mestrado, com duas especializações concluídas, eu me pego refletindo que a maioria das coisas que eu aprendi não foram por causa da academia, embora passem por meio dela. Vamos lá!

Aprendi que é muito importante planejar, mas isso só ocorre para melhor improvisar.

Aprendi que há coisas que simplesmente acontecem. Depois disso é que posso escolher.

Aprendi que processos não podem ser acelerados, todo mundo tem seu tempo. O que eu posso é estar disponível.

Aprendi que, quando se trata de pessoas, eu não posso esperar nem tentar prever. Muito menos, calcular. 

Aprendi que para ser autônoma, preciso ser proativa. Mas ser proativa não significa ser autônoma. Há um esforço muito maior para a autonomia.

Aprendi que pouco posso reproduzir, embora tenha lido muito mais.

Aprendi que, embora pareça uma ideia muito empolgante, não é legal indicar para os pacientes vídeos do YouTube como uma espécie de dica para ajudar no processo. Livros, filmes e séries, só numa situação muito singular. 

Aprendi a cobrar faltas, a ter horários agendados, a estabelecer contratos e a abrir mão de tudo isso quando necessário.

Aprendi a unir pesquisa, prática e lazer.

Aprendi a consultar minha opinião e confiar mais em mim.

Aprendi a não usar somente da minha opinião e a pedir supervisão.

Aprendi a questionar.

Aprendi que minha profissão é de bastidor, de platéia, de torcida. Embora as vezes escute que sou peça fundamental em certos processos.

Aprendi a me cuidar para cuidar do outro. E sair de cena quando não posso oferecer um bom cuidado.

Aprendi que embora eu me esforce para manter meus ideais, existem outros elementos que podem mudar todo o percurso e eu só terei a escolha de seguir ou não em frente.

Aprendi que ser minha própria chefe tem seus benefícios, mas exige uma autocrítica e autocobrança as quais revejo todos os dias.

Aprendi que ser inautêntica dói. Porém ser autêntica, também. 

Aprendi que se eu avisar direitinho antes, eu posso cobrar depois. Mas é importante ter isso por escrito as vezes, o outro pode esquecer.

Aprendi a fazer planilhas e a controlar melhor meu suado dinheirinho. 

Aprendi a silenciar. 

Aprendi a ser sócia e ter sócias.

Aprendi que somente o que substitui uma falta é uma presença. Mas os sentidos podem ser ressignificados. 

Aprendi o quanto é perigoso aprisionar sentidos.

Aprendi que a perda existe todos os dias.

Aprendi que toco mais pessoas do que imagino e não controlo as medidas de como isso chegará no outro. Por isso, é importante observar.

Aprendi a ouvir. E que todo mundo tem seu modo de ouvir. E que, embora seja incômodo que o outro não me ouça como eu gostaria, isso exigirá de mim mais fluidez e, consequentemente, eu terei a oportunidade de entender melhor de como eu apareço para o outro e como o outro está para mim.

Aprendi que eu posso voltar atrás.

Aprendi que acelerar na ideia de ganhar tempo no futuro faz com que eu perca tempo agora. O débito é condição existencial. 

Aprendi que o melhor de mim pode não ser o melhor pra o outro. E tudo bem.

Aprendi a me perdoar. 

E, questionando-me todo esse tempo se eu vou continuar ou não nesse caminho, a minha escolha por ele acontece todos os dias. Não tem sido um percurso fácil, não rende muito financeiramente, afeta das mais variadas formas porém, quando eu estou no consultório, diante das mais diferentes, dolorosas e belas histórias, o privilégio de ser uma das convidadas a participar deste momento tão importante das vidas daquelas pessoas me enriquece de uma maneira incalculável. 

Eu gosto de viajar, tenho procurado fazer sempre que possível pois me encanta conhecer novos lugares. Mas percebi que nada me encanta mais do que "viajar" nas histórias daqueles a quem atendo, vibrando, imaginando, me emocionando e torcendo.

Tenho, em mim, viagens incríveis!