sábado, 9 de janeiro de 2016

Vaga-lume

Todo mundo é dominador de alguma verdade, e vive em volta dela como quem segue num caminho iluminado apenas por uma tocha. Neste percurso, há quem tenha tochas menores, e se ilumina também pelas tochas dos outros, e estes, ao enxergarem a vulnerabilidade daqueles, fazem questão de impor sua luz como a única saída.

É difícil aos que aceitam outras luzes conseguirem caminhar em meio aos que tentam impor as suas. Restam duas saídas: ou eles saem das grandes luzes e seguem seus caminhos um pouco mais isolados enxergando pouquinho a sua frente com suas tochas pequenas, ou aguentam a ferro e fogo os possuidores de tochas maiores jogando aquela luz, diminuindo as menores (ou mesmo fazendo-as sumir), sobre eles impositivamente. 

As boas intenções existem às tampas, sob a justificativa de querer o bem dos transeuntes que não conseguem enxergar muito longe. Se os pequenos aceitam as verdades dos outros, quase que obrigatoriamente viverão a remendar-se a vida toda, mudando o caminho de acordo com os maiores, sob a pena de cair em grandes abismos por sua teimosia de não saber seguir com a própria vida.

“Tome, tome um pouco dessa minha luz. Ela é melhor, veja! A sua é fraca, como você consegue caminhar sem essa? Não seja teimoso! Ah, essa sua teimosia em seguir do jeito que quer é tão condenável. Você vai se dar mal. Talvez mude um pouco se seguir com a minha, mas sem ela estará perdido”.

E o pequeno andarilho se confunde, estará sendo teimoso? Se esta foi a luz que lhe foi dada, deverá a todo custo abandoná-la porque não é válida? O que será que lhe falta enxergar que o outro afirma ver com tanta convicção? Porque ele não consegue ver?

Há transeuntes que, em meio a todas essas questões, abandonam a sua tocha e seguem os grandes, mendigando sua luz. Há outros que seguem com suas pequenas tochas, dando um passo de cada vez e em alguns momentos, aceitam um pouco de clareza de outras tochas, naqueles momentos mais difíceis. Há aqueles que há muito tempo abandonaram as suas e as dos outros, e seguem apenas os vagalumes. E por último, há um pequeno grupo que até aceita um pouco de luz exterior, mas vem tentando produzir a sua, como os próprios vagalumes. É possível enxerga-los por aí, quando se deixam ver. O cuidado deles é com quem quer aprisioná-los para sugar sua luz.


terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Um Quarto de Século

2016 é o ano em que eu completo 25 anos. Um quarto de século. Alguns consideram pouco tempo, outros consideram uma idade chave para se dar certos avanços na vida. Eu considero um bom tempo. Se eu conquistei grandes coisas até aqui? Depende do ponto de vista.

Não alcancei o que sonhava aos 15, mas meus sonhos mudaram então não dá pra contar com isso. Posso dizer que os sonhos de agora, àqueles para curto prazo, eu estou realizando. Para isso, obviamente, eu tive que me tornar menos exigente e mais aberta à outras experiências. Sem contar as coisas que consegui sem ter sonhado antes, as surpresas das decisões tomadas em cima da hora, aos 45 do segundo tempo. Essas sim foram difíceis pra caramba, mas me fizeram feliz.

Hoje eu não tenho tantos amigos como antes, precisei podar a árvore (e o tempo se encarregou de outros). Hoje eu não saio com frequência nos fins de semana, nem ouço mais todo tipo de música. Hoje eu estudo mais, muito mais do que antes. Hoje eu prezo pelo meu apartamento, que é quase uma extensão do meu corpo. Moro sozinha, faço a maior parte das minhas atividades sozinha. E isso é bom.

Hoje eu moro em uma cidade que há menos de três anos jamais imaginei que moraria, nem desejava. Com isso descobri como as coisas podem mudar, como eu posso mudar. E por isso mesmo, tenho a sensação que me conheço muito mais. Defendo meus limites com unhas e dentes, mas ainda flerto com a linha tênue. Não aprendi a selecionar demais quem me acessa, mas aprendi a identificar aos poucos quem eu quero que permaneça. 

2016 começou de uma maneira inusitada e pesarosa. Houve um nascimento e uma morte, não só do ano novo e velho. Também se inicia com mudanças que foram plantadas em 2015. Inicialmente meu calendário de eventos já mudou, minha rotina também mudará, e só Deus sabe mais o quê.

Os caminhos que 2015 me indicou foram seguidos, e já não há tantos rastros. Os fantasmas também desapareceram, aparentemente. A única coisa que me segue é a sensação que não há outra vida que eu poderia estar vivendo além desta, e que daqui pra frente tudo pode acontecer.

2015 não foi um ano muito doloroso, foi um ano de transição entre o terrível 2014 e este 2016 que se inicia, ainda sem definição ou adjetivo. A minha única meta para 2016 é: não esperar nada demais. 

O que eu tinha de deixar ir, de forçar ir, de resolver para que não me tome por meu descuido, eu deixei, eu forcei, eu resolvi. Eu escolhi novamente por mim, eu me elegi para 2016.