terça-feira, 18 de setembro de 2018

Entre o novo e o antigo o que muda é o olhar

Havia viajado algumas, e porque não dizer muitas, vezes por aquela estrada. Usando de recursos comuns, carros pequenos ou vans e tendo alguém que dirigisse o meu caminho, eu pouco olhava pelas janelas. O destino me era comum, porque procurar belezas durante o caminho? 

Ao fazer sempre a mesma viagem, só mantinha meus olhos atentos  quando avistava o destino final. Sem perceber, isso nunca me enriqueceu nem tornou meu caminho mais próprio.
Depois de um longo tempo, tive oportunidade de fazer viagens para outros lugares. Nelas, tendo que dirigir o meu caminho, eu o observava, visto o destino não me ser comum. E pude perceber que novos percursos me moldaram os olhos. Porém mesmo assim, ao voltar aos lugares que já frequentei, eu olhava da mesma forma, ou dormia no percurso. 

Minha vida mudou e depois tive a oportunidade de querer apresentar o que me era conhecido a outra pessoa que comigo viajava. Para ela, tudo era novo e então eu fui me tornando facilitadora do seu caminho. Aqui digo facilitadora porque íamos dirigindo juntos e nos auxiliávamos.

Precisando estar atenta a todo o percurso, eu comecei a apresentar a meu companheiro todos os lugares que meus olhos já haviam visto. Não tomei a sua frente, eu só apontava e ele me apontava o que, no meu caminho comum eu não havia percebido antes. De repente, percebi-me viajando!

Os caminhos que eu já era habituada se tornaram caminhos que me enriqueciam os olhos porque, ao que parece, era importante que o outro visse tudo que me era importante e que, enquanto eu estava sozinha, era comum.

Não dormi durante a ida e nem na volta, não senti preguiça ou busquei desculpas para não revistar todos os lugares.
Interessante é pensar o quanto podemos enriquecer nosso olhar quando tentamos enriquecer o olhar do outro. Não busquei criar nele expectativas ou sonhos, mas simplesmente tentar transmitir minha história nesses caminhos.

Do outro lado, ele na minha história não depositava expectativas ou sonhos e talvez por isso, fizemos uma viagem limpa e cheia de coisas antigas vistas agora com uma nova beleza. A maioria das minhas histórias naquele caminho já não mais existiam, assim como mudaram os lugares que frequentei.

E eu falava "ali costumava ser, ali acontecia, aqui era...". Percebi nesse discurso que nada mais é. Assim como eu ali não sou, eu fui. Isso é história, algo que nos referencia ao hoje e que hoje não existe mais.

A partir dali, senti que eu e ele fazíamos uma nova viagem juntos. Nenhum lugar será igual. 
Desejo assim manter abertos os meus olhos para todos os caminhos e não dormir durante os percursos, novos ou conhecidos. Algo novo pode sempre acontecer!


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