quarta-feira, 20 de maio de 2015

Por favor, não me aconselhe.

Esses dias eu estava no ônibus e um senhor que estava sentado na cadeira da frente não parava de tossir. Ao atender um telefonema, tinha voz de quem fuma há um bom tempo. Ele não parecia estar bem. De imediato, pensei: é, isso é o que o cigarro faz com as pessoas, fuma quem quer. Em seguida eu já me condenei: que coisa feia, você nem sabe se o cara fuma mesmo! O ponto é, e se fumar? As pessoas têm esse direito, não têm? 
E por eu ser uma pessoa que pensa demais, logo viajei nessa reflexão. O que é certo e o que é errado. Existe um ponto de vista totalmente correto? Uma vez eu ouvi dizer que errado é aquilo que nos faz mal. Mas tem tanta coisa que eu faço que não me faz somente bem. E creio que outras pessoas também. Por isso é perigoso comparar. Opinar então! O que é compensador pra mim pode não ser pra você. Isso me faz estar agindo errado? Ou você estar errado? A ideia de conselho parte justamente disso. O que na minha experiência deu certo poderia ser o melhor pra você. E a gente quase sempre se convence disso quando opina sobre a vida de alguém ou julga.
Um dia desses eu estava no salão de beleza e a mulher que estava ao meu lado começou a puxar assunto. Quando eu disse que era psicóloga ela logo extendeu o papo. As pessoas fazem isso sempre, parece que por ser minha profissão, existe uma plaquinha na minha testa: estou sempre disposta a te ouvir. Até porque ela não parecia querer saber mais nada de mim. Começou a falar que uma grande amiga estava "presa" a um casamento que ela considerava um fiasco. "Não havia mais nada entre eles" ela afirmava achando aquilo um absurdo. Até que um dia sua amiga resolveu pedir-lhe um conselho, pensou na possibilidade do divórcio e quis saber sua opinião. Ela respondeu que a amiga deveria pedir, porque aquele casamento não existia mais, porém haveria de enfrentar a solidão, abrir mão do luxo que o marido proporcionava, aprender a ser sozinha. A amiga decidiu continuar no casamento, assustada que ficou com essa ideia de solidão toda. A minha nova amiga ficou arrasada, segundo me relatou. Comentei "conselho é perigoso, não é?" Ela pareceu sentir dor com o que eu disse. Mas de fato é verdade. 
Imaginei um mundo onde não existissem conselhos, cada um toma suas decisões baseado no que lhe é importante e os outros saberiam lidar com isso. Seria possível? Isso significaria que o cara da minha frente poderia fumar até morrer e sua mãe, esposa - ou mesmo eu que me incomodei um pouco por achar que ele estaria sofrendo de tanto tossir; ninguém diria para ele não fazer. 
Obviamente que ninguém seria obrigado a acompanhá-lo nas consultas ao médico, já que ninguém seria responsável pela escolha dele. Acompanhariam apenas porque ele pode ser um cara legal e alguém o ama sem julgar errado sua escolha de morrer mais cedo. 
Eu aceito suas escolhas, e se eu me envolver na sua história a escolha é minha. Mas modificá-la por querer que você seja melhor pra mim, jamais. 
A amiga lá da moça do salão pesou suas alternativas e quis continuar no casamento. Este existe se eles ainda estão lá, não é mesmo? Se pra moça do salão não era interessante o casamento da amiga, que no seu casamento ela faça diferente. Se eu não gosto de refrigerante, eu não tomo. É porque faz mal? Nem é. Só não gosto. Quem toma gosta, o corpo é da pessoa, que a gastrite lhe seja leve. Eu tomo café feito uma doida, que a gastrite me seja leve também.
Sei lá, talvez eu esteja indo longe demais, mas ultimamente comecei a pensar que não existe nada totalmente certo ou errado no mundo. Tudo, absolutamente tudo, depende da situação. Não digo que a experiência de vida de uma pessoa não possa ajudar a decisão da outra, mas ela escolhe se aquilo pode ser conveniente ou não. Por mais que ela siga os passos da outra, tudo com ela será diferente, já que é outra pessoa. Esqueça os "10 passos para ser bem sucedido na carreira" ou "5 regras para o casamento dar certo". Para a primeira opção, corra atrás do melhor jeito que você achar que deve. Movimente-se. Para o casamento, se conheça, conheça o outro e organizem-se entre vocês. 
É clichê, mas clichê existe porque é válido: Se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia. 
Ah, e psicólogo não dá conselho, tá? Vamos parar com isso. O que psicólogo faz é outra coisa, é te ajudar a encontrar seu próprio caminho, com ferramentas teóricas necessárias (o que foge do senso comum). Mas isso é papo pra outra conversa...

Siga seu coração!
Somos muito mais felizes quando aceitamos nossos próprios atos. A aprovação alheia é consequência. Sempre vai ter alguém que discorda mesmo. Com esse alguém eu posso não conviver, mas comigo terei de conviver até o fim.


Um comentário: