quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Mudaram-se as perspectivas

De repente, tudo que era pequeno se tornou grande e o que era grande perdeu espaço, portanto, diminuiu. Algumas necessidades deixaram de sê-las, alguns hábitos foram transformados. E as vontades, por hora, extintas. De repente tudo, absolutamente tudo, era considerável. E ao considerar tudo, alguma coisa, ou qualquer coisa, até as mesmas coisas poderiam acontecer. É a sensação de que o ônibus não segue mais o itinerário, na verdade a sensação que desci do ônibus e ando pelas ruas. Não há um só caminho traçado, existem vários caminhos.

"E parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha seu intuito diferente. Cada passo condizia à um êxtase, e a alma cobria de um luxo radioso de sensações! Ergueu-se de um salto, passou rapidamente um roupão, veio levantar os transparentes da janela... Que linda manhã! Era um daqueles dias do fim de agosto em que o estio faz uma pausa; há prematuramente, no calor e na luz, uma certa tranqüilidade outonal; o sol cai largo, resplandecente, mas pousa de leve; o ar não tem o embaciado canicular, e o azul muito alto reluz com uma nitidez lavada; respira-se mais livremente; e já se não vê na gente que passa o abatimento mole da calma enfraquecedora. Veio-lhe uma alegria: sentia-se ligeira, tinha dormido a noite de um sono são, contínuo, e todas as agitações, as impaciências dos dias passados pareciam ter-se dissipado naquele repouso." (Eça de Queirós, O Primo Basílio)


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