domingo, 30 de agosto de 2015

O que vem primeiro, meu erro ou o seu?

Os últimos dias têm sido bastante corridos pra mim, andei muito, resolvi muita coisa, trabalhei bastante. E nesses meus caminhos eu tive contato com uma pessoa que estava sofrendo por um recente pé na bunda. Como eu sei que minha missão na terra é ouvir e ajudar as pessoas a terem um pouco de paz na desordem de suas vidas, resolvi lhe dar atenção.
Ela falou durante horas sobre um relacionamento fracassado, e deixava bem claro que havia se envolvido sabendo que não daria em nada, que no fundo sentia que ele poderia ter outra pessoa. Até aí tudo bem, é uma escolha se envolver com quem não quer se envolver. Mas aprofundando a conversa ela acabou relatando que esperou mais atitude do cara, que ele deveria ter lhe dito antes que estava em outro relacionamento, situação essa que ela nunca havia lhe questionado, sequer procurado a rede social do cara. Mas se ele tivesse falado o que nunca foi questionado, teria lhe poupado semanas de dedicação e acolhimento em sua residência. Sem contar que ela o culpava amargamente por esse sofrimento de agora.
Beleza, isso acontece. Mas, porque esperar tal atitude somente do cara? Segundo ela, o homem é que precisa por as coisas em pratos limpos, impor as condições porque ela já havia aberto as portas. Nesse ponto eu precisei discordar. Não é possível que séculos de desenvolvimento humano se passaram e ninguém avisou que não são só os homens que precisam ter atitude. Principalmente se tratando de até onde eu deixo a pessoa entrar na minha vida!
A vontade que eu tive foi de balançar aquela mulher e dizer "minha querida, assuma sua participação na desordem da qual você se queixa!" Já dizia o bom e velho Freud. Longe de buscar culpados e estabelecer julgamento, mas convenhamos que se tratando de dois seres humanos livres em suas vontades de estarem juntos os dois precisam se colocar pra entender o que querem e decidir até onde vão com isso.
Na minha opinião, não há nada mais legal no mundo (se tratando de relacionamentos) do que duas pessoas que opinam.
- Ei o que eu quero é isso? E você? 
- Então, o que eu quero é isso aqui. 
Dadas as condições, lancem-se ao encontro, ou não.
Em que parte da história da humanidade alguém estabeleceu que isso não pode ser feito? Qual foi o grande pensador do século que disse "jamais fale o que você quer ou o que sente porque isso afasta o outro!" Eu tenho visto que é exatamente o contrário. Pessoas passam a vida engolindo sapos enormes pra simplesmente não chegar no outro e falar "qual é a sua?"
Isso nada mais me parece do que medo de perder o outro. Mas, honestamente, aqui pra nós, eu não quero uma pessoa na minha vida que eu possa perder no momento que eu fale como eu me sinto. Isso é o básico! "Ah Malu, por isso você tá solteira!" Graças a Deus então, tenho curtido bastante minha solteirice.
O ser humano possui duas ferramentas sensacionais: capacidade de comunicação e aprendizagem. Façamos bom uso. E isso inclui aprender a nos conhecer.
Para a moça eu disse que agora é curtir a fossa mesmo, mas cuide em aprender com isso. E eu estou longe de ser a pessoa mais bem resolvida da terra, mas aprendi a olhar certas coisas com outros olhos porque me cuidei, busquei conhecer até onde eu posso enfiar o pé sem perdê-lo. E outra coisa, eu já fui bastante algoz de mim mesma nesses lances da vida. Culpei e busquei razões somente nos outros do porque o relacionamento não ter dado certo, mas graças à minha terapeuta eu aprendi a olhar os dois lados.
Existem situações que o outro é o babaca? Existem. Existem situações que nós somos os imaturos? Existem. Existem situações que estamos prontos e o outro não e não é culpa de ninguém? Também. Identificados os sentidos, nada melhor do que seguir em frente.
Prender o pé no buraco de uma mágoa de relacionamento mal resolvido é assinar uma sentença de amargura que só fará mal à quem está preso. Nada mais digno do que libertar-se de tais sentimentos olhando a realidade dos fatos, e se incluindo neles para buscar melhorias.
A moça ainda soltou que lamenta ter aprendido algumas técnicas de cozinha com o cara porque agora não fará mais sentido usá-las. E eu completei: Deveria fazer o contrário, se alguém lhe trás algo que possa te melhorar, mesmo que esse alguém não valha mais apena, aceite isso.
E concluo o pensamento agora: Moça, aperfeiçoe essas técnicas, coloque o seu tempero e chame outro cara pra jantar!

"O que vem primeiro, a música ou o sofrimento?"
Cena do filme "Alta Fidelidade", que esse texto me lembrou bastante.

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