quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Gente Grande

Queria uma resposta sobrenatural. A vontade não é motivo suficiente, não agora. Quando eu era criança, confortável demais no meu sofá, adormecia sem ir pra cama e, sem decidir nada, meu pai me levava nos braços. Hoje, se adormeço no sofá, fico no sofá. Não há ninguém pra tomar essa decisão por mim. Perdeu a graça poder perder a responsabilidade de vez em quando. 

O bom é quando é um privilégio. Como quando eu saía pra brincar com autorização e voltava machucada: tudo bem, foi concedido. Mas quando ia só por minha vontade, o machucado era maior, porque a culpa ganhava espaço. Não tinha direito de reclamar a dor, nem de pedir colo porque “eu sabia”.

Ser gente grande é pura e simplesmente isso, adormecer no sofá se quiser. Comer a sobremesa antes do almoço, se quiser. Não comer nas horas certas se assim bem entender. E não há mais um divertimento genuíno, como uma batalha conquistada por desobediência que causava um sentimento de medo e prazer ao mesmo tempo.

Às vezes, assumir-se responsável é um pé no saco.

MadMen

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