terça-feira, 17 de julho de 2018

Não há dúvidas quando há dúvida


Eu não desejo mais voltar ao tempo em que, na minha cabeça, as coisas deram errado. E eu demorei muito tempo para parar de desejar isso. Comecei a deixar de querer quando notei a contradição de gastar tempo querendo voltar no tempo, querendo reaver o que eu considerava ter perdido, não ter percebido, ter desperdiçado. 

Não sei, talvez seja a maturidade chegando - embora ainda me considere verde; e já consigo perceber o mérito de cada tempo e cada fase.
Eu não sabia, aos 10 anos, que aquela sensação de não pertencimento ao mundo ia encontrar lugar. Eu não sabia, aos 15 anos, que aquele vazio ao chegar nas festas e me sentir completamente fora do meu corpo, observando tudo aquilo de fora, era falta de conhecimento de que o que realmente me agradava não estava ali. E que dava pra viver bem com o corpo e o cabelo que eu tinha (e tenho). Eu mal compreendia que paixão passa, e que quase todos os garotos por quem eu achava que tinha me apaixonado não tinham sido mais do que nervosismo ou insegurança. Depois disso eu nem sei mais o que é paixão, se for aquilo que eu sentia, eu sinto muito parecido com aranhas e eu tenho pavor delas. Não respeito nenhum relacionamento que, pra estar nele, eu precise vivenciar toda essa insegurança. Nunca foi nem seria amor.

Eu não desejo mais voltar no tempo e me vingar de algumas ações ruins de pessoas que, sem compreensão também, atentaram contra mim. Embora muitas delas hoje eu não queira por perto, não por ódio ou rancor, é por não querer mais compactuar com aquilo que antes era considerado amizade e outras vezes relacionamento amoroso. Eu entrego ao meu passado todos os sofrimentos revisados em terapia, e pontuados de uma maneira mais coesa e menos pesada. Agora eu deixo tudo na estante, podendo ver sempre que quiser, sem maiores dores.

O que no fundo quero dizer é que, percebendo a maneira que me movimento, respeito todos aqueles momentos em que, por imaturidade, eu me enxergava envolta de uma teia que me apavorava - por serem as teias objetos de criação do bicho que mais me assusta. 
E então, depois aprendi que essas teias não eram reais, embora o estar dentro de um lugar escuro e apertado o fosse. O que mudou foi que, ao sair, eu olhei para trás e vi, pela primeira vez, que em cada momento desses eu estava dentro de um casulo. Que estar lá é ruim, sim, mas necessário.

Admiro, hoje, as minhas belas asas e respeito todos os meus processos. Isso é, talvez, aquilo que eu mais ouvi a minha vida toda e não conhecia, o tal do famigerado amor próprio. Paralelo a ele eu entendi o que é amor também em terceira pessoa, e que não preciso passar por grandes medos ou inseguranças, ou por uma paixão absurdamente desestruturante, para me sentir bem com alguém, seja este em amizade ou em relacionamento amoroso.


O que vem calmo e é bem construído, dificilmente nos rouba o casulo e nos coloca dentro de uma teia.
Que eu jamais me esqueça disso.


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